Ele, por seu momento, foi doçura e amargura. Foi todo o sentido que eu deixava escapar dos meus dedos e todas as perguntas que eu prendia entre os dentes.
Ele não sabia, mas eu era pura angústia que quando mergulhada naqueles olhos virava bonanza. Não imaginava, mas era tanta tristeza em mim, tanta coisa guardada, tanta dor disfarçada, que cada sorriso que ele me causava era uma parede caída.
Ele talvez não lembre, mas quando me encontrou os meus olhos eram de adeus. É que eu me despedia de mim todos os dias, morrendo, cedendo, calando. E ele apareceu como quem corta caminho, espalhando as flores de uma estação que eu não conhecia.
Eu o encontrei como quem encontra um livro raro, convidativo, sedutor. Era ele as páginas de todo um desejo, as figuras de todo um futuro. E eu, curiosa para ler, me deti em degustar aquela interpretação. E percebi que ele era a poesia que eu mesma datava. Era a história que eu inventava. Era tudo, mesmo sem poder ser nada. E, depois de muito tempo, um livro me fez sorrir.
Me diga você, poderia eu lê-lo sem querê-lo depois? Conseguiria eu resistir? Não somar poesia, não montar parágrafos? Logo eu que nasci com uma caneta de sonhos na mão?
Deixei-me versar. Porque era ele um punhado de palavras que me abraçavam inteira. E, depois de muito tempo, um livro me fez sonhar.
E por trás de todo o meu discurso amoroso, eu é que não sabia de amor.
Porque escondido nos meus capítulos idealizados estava a minha realidade, dura, insistente.
Hoje, ele é a distância entre meus dois opostos, ele é a voz que condena meus atos. Ele ainda é poesia, ainda é livro, ainda é alvo da caneta que me acompanha. Mas agora também é frieza, silêncio, lembrança.
Ele era tudo o que eu precisava, mas não chegou a ser o que eu vivia. E talvez ele nunca entenda o quanto eu quis ser livro, e não leitora, apenas para que os olhos dele estivessem em mim.

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