Pasárgada é o paraíso de uma mulher que vive a diversidade que lhe permite a história. Uma curiosa ardente que julga ser possível dentro da magnitude complexa dos sentimentos desvendar os mistérios guardados onde nem mesmo a razão ousaria chegar.

AH CLARICE!



"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..." (Clarice Lispector)


Não. O mundo não é um lugar bom. Começo a achar que não há ninguém digno de confiança plena. E, sendo eu adepta ao "tudo ou nada", resta-me o nada. Jamais esperei plenitude de algum outro alguém. Cada qual tem seu próprio mundo, por mais que dividamos compartimentos desses. E, também, nunca fui de me dar por inteira. Deus me livre! Gosto de ser eu comigo mesma e isso não é nem questão de escolha. Individualismo está nos meus genes. Só lamento por eu ser tão pura e ingênua e nunca ter movido um dedo pelo mal de outro alguém. Já tive raivas instantâneas e maldadezinhas perversas. Coisa pouca e tola. O que sinto agora é como um lamento, decepção, por descobrir que o mundo é feito de individualismo e as pessoas o fazem por mal. E adjunto um ódio, por perceber que sou pouca sendo ingênua, fazendo sem esperar, agindo sem nenhum outro propósito senão somente agir. Os outros são cheios de jogar verdes e eu estou sozinha nessa. E vem um profundo vazio, uma carência de ter alguém por inteiro - que não eu - e que de tanta cordialidade e ingenuidade que nos fizesse, por vezes, chegasse a ser o outro alguém. Talvez seja o que chamam de comunhão perfeita. Quem sabe essa plenitude de almas seja a elevação espiritual mais buscada por nós, humanos, que só atingimos quando nos mesclamos ao coração de outro alguém. Vejam só, se não é isso que o amor prega? Não o sei dizer, mas assemelha-se muito a esse tal mutualismo de almas. É que tenho minhas dúvidas. Assim como tudo na vida que é concreto acaba se estudando pelo que é ideal, não penso ser possível na prática. Pois para duas pessoas que se amam, há sempre as horas de amar um contra o outro. Sendo assim, o amor, estado de graça do mutualismo de duas almas, é nada mais que um paradoxo, humanamente impossível. Ainda creio nos sentimentos meramente humanos - que aqueles que digo amar não se ofendam! Mas deixo minha completa frustração ao dizer que jamais amarei alguém de verdade. Pois não há no mundo quem mereça minhas tão sinceras verdades.

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