Pasárgada é o paraíso de uma mulher que vive a diversidade que lhe permite a história. Uma curiosa ardente que julga ser possível dentro da magnitude complexa dos sentimentos desvendar os mistérios guardados onde nem mesmo a razão ousaria chegar.

MEU DESERTO


Esta é a viagem a que a minha teimosia me obriga. Não desisto. Nada está escrito, tudo está na nossa cabeça. A realidade é a desolação inóspita da areia escaldante do sol a pino ou gélida pela noite. Dos sonhos que ainda moram em mim, deles faço a minha força. Vou desfiando, uma vez e outra, a cada passo, a memória das coisas boas, mas evito enternecer-me. Perder pessoas que amamos torna-nos mais frágeis, e eu perdi algumas.Há quem valorize os sucessos, eu sempre achei que eles eram naturais… Poucas vezes me entusiasmei com uma conquista. Em contrapartida, cada derrota, cada ofensa ao amor-próprio, causou sempre grandes estragos (mesmo que eu também os tenha causado). Mas como atravessar o deserto, na obstinação de uma ilusão? Esse é o meu moinho de vento, a minha loucura: gosto do impossível, do paradoxal. Invento personagens: sou Hamlet, Cyrano e, afinal, talvez mais uma singular personagem de Kafka…Mas o que vale nesta travessia sem fim será a beleza dos afetos, dos objetos, das palavras, dos rostos, das cores, dos sons. Mesmo que me tirem eu tenho-os na cabeça. O meu deserto preserva-os. Só por isso, continuo.








Nenhum comentário:

Postar um comentário